terça-feira, 29 de março de 2011

Mais um dia (from transcendente)

Acordo já cansado.
Não importa a hora que eu durma, o corpo reclama.
A condução não oferece o mínimo de conforto.
Esta sempre cheia e não há ar condicionado.

Me concentro em ler, mas o calor é insuportável.
Fecho o livro e o coloco sobre o colo. 
Cerro também os olhos.
Tento bloquear a audição.
O engarrafamento é interminável.
O sono chega natural, parece um complemento do descanso noturno não totalizado.
Vez ou outra abro um dos olhos para me localizar.
Meus cabelos estão molhados e avancei pouco no trajeto para o trabalho.

Por que não há políticas públicas para um transporte decente e inteligente?

Após quarenta minutos de sonolência, decido atentar para o mundo ao redor.
De quando em quando percebo lixo sendo jogado pela janela dos veículos.
As pessoas não se importam.
Poluem tudo que tocam.
Ou poluem ao se desfazerem do que tocaram.
Em fim, tornam tudo uma latrina a céu aberto.
E depois levam a mão a boca em um gesto inconsciente e acabam consumindo os próprios excrementos além dos alheios...

Poluem o ambiente e não se dão conta da lei do retorno.
Aliais, haverá retorno, e pela mesma via.

A natureza aguardará pacientemente para dar o troco.
Quando a chuva vier, não só eles, mas todos nós seremos tragados pela enchente.   
A fúria da natureza trará de volta tudo jogado ao vento ou deixado por nós inadequadamente.

Chegaremos tarde no lar, será um caos como de costume.
Por que o povo não aprende?
As autoridades nao se comprometem.
Educação não é só uma questão de tratamento interpessoal, é o respeito ao meio em que se vive, é garantir o direito de ir e vir de cada cidadão.
Precisamos deixar de ser nocivos a tudo e a todos.
Temos que controlar o ímpeto de agir sempre segundo a lei do menor esforço.

sexta-feira, 25 de março de 2011

MUSICA & PACIFICAÇÃO

O Brasil é conhecido mundialmente através da miscigenação, futebol, culturas e ritmos. Também é visto como relativamente pacífico, e com um povo a margem, ou totalmente na pobreza.

Vivemos hoje um momento musical carente.

Existe afinação, mas se perdeu o teor cultural que deveria ser inerente ao que se expressa.
Vivemos com o mínimo aceitável, às vezes nem isso, no entanto, a Massa dedica atenção às canções que exaltam a lua, falam de desilusões amorosas, festas e sexo ou não falam nada, ficam só no tut tut tut tut tecnotronico.

Não tenho nada contra estas coisas, todos devemos ter momentos de descontração onde realmente é necessário extravasar, e rir com sinceridade.
O fato é que não podemos cultuar só isso, deve-se ter um equilíbrio entre fé, amor, festejos e principalmente dignidade.

Entre tantas estrofes, não há politização, só pedidos de reconsideração e ou declarações de sofrimento pelo amor que se foi.

Quando os momentos de folia terminam, a realidade retorna com força, e alguns se dão conta da vida que levam, outros nem isso.
É normal termos problemas, discussões, etc, mas precisamos de elementos que nos impulsionem a uma expectativa melhor de vida, um cotidiano melhor.

Adoro música, mas não sou muito eclético, confesso.

Acredito que as letras devam expressar de tudo um pouco, e inclusive, ou principalmente amor, no entanto, o amor seria mais real, se estivesse atrelado a condições melhores de trabalho, transporte, educação, renda, e outros detalhes essenciais.
Os fatores mencionados acima são geradores de stress, e é difícil manter qualquer relação, onde o nível de esgotamento ou insatisfação seja alto em relação ao redor e sua reação é ser passivo através do que escuta.

Esta tudo interligado.
E você esta sendo embalado em uma linha de produção.
Aceitação.
Achar normal o que é inadmissível.

Quando esgotada a pessoa tende a ter menos paciência, ser menos tolerante e se coloca em situações de risco, risco para o casal, risco para a família e amigos
Com diz o filme “o sistema é foda”

A mídia em geral é um patrimônio de um grande empresário que lucra com a massificação, desta forma atrai anunciantes e gera renda.
Sendo assim, torna-se conveniente que as portas das empresas estejam abertas para arrebatar o público, e para isso, nada melhor do que um povo alienado.

Não é interessante alimentar uma nação com cultura e questões sociais.
Para o empresário é como dar um tiro no próprio pé.

Então continue a curtir os ruídos ritmados com versos de solidão, sexo, folia, etc
Não invista em algo construtivo, acostume sua mente a pensar em dor de cotovelo e promiscuidade desenfreada e achar que ter o mínimo é normal.
Assim, os empresários ficam felizes e agradecem enquanto é perpetuada a passividade e pobreza da nação.

sexta-feira, 18 de março de 2011

SOCIEDADE CINZA.

Saiu decidido a ir para casa.
Na interseção olhou diretamente para a esquina transversal.
Viu as pessoas rumando em direções diferentes em busca de seus próprios ideais.
Não podia fazer nada se as decisões alheias nao lhe cabiam o direito de escolha.

Pensou em como as pessoas estão abstratas e escurecidas.
Pregam algo e seguem o oposto em suas ações.

Amam destrutivamente a si e ao objeto de seu desejo.

Refletiu rapidamente sobre as batalhas ao longo da vida.
Percebeu que não havia justiça.
Imaginou sua imagem desgastada pelos embates ao longo do tempo em um espelho turvo.
Nao queria mais lutar, o convencimento era uma ferramenta a muito deixada de lado.

Fora rotulado por outros, talvez injustamente por detalhes que por toda a vida lutara contra.
E o sabor era amargo.

Respirou profundamente, e achou tudo sem sentido ao dar-se conta que havia uma enorme contradição, mas, ao perceber que nao era só sua, permitiu-se relaxar.

Os outros tinham personagens cuidadosamente projetados para não transparecer o real ser por trás dos atos perpetrados, nunca se expunham de verdade, mantinham a distancia e a guarda sempre alta.

Haviam também os que pregavam sobre o gostar, e o querer bem, mas não conseguiam ou não queriam enquadrar o que sentiam ao contexto correto.
No entanto, quando se tratava de julgar outras pessoas e sentimentos, o enquadramento era facil.
Rotulavam a revelia as atidutes e palavras, mas ao falar de si, nao conseguiam definir os próprios sentimentos ou falavam que nao foi como previsto.

Quando quiser saber quem o outro é, coloque os sapatos dele sem meias, é como se vestir do corpo alheio e ver por outros olhos, do contrário, é só exercício de abstração.

As pessoas decidem algo, mas parececem carecer de convencimento para ter certeza.

Convencer nao estava entre suas prioridades, já havia pensado nisso antes.
Fez o possivel, mas, nao extrapolaria o limite do respeito pelas decisões previamente tomadas por outras pessoas.

Segundo algumas teorias, o que nao se percebe, tende a ser destruido quando nao possuído, ou pode ser qualquer coisa quando se perde o sentido de ser, ou quando o controle se esvai.

O excesso de informação e emoções nublam o bom senso.

Que lógica pode resultar quando nos auto canonizamos em relação aos demais?
Não seríamos iguais perante as leis eteriais que regem a sociedade, sejam elas, religiosas, jurídicas ou até mesmo racionais?

Teoria é o que temos, na realidade, nos protegemos, nos colocamos acima de tudo e de todos quando o que esta em jogo é a auto imagem.

Por que sem a Armadura somos frágeis e nenhuma pelicula nos protege.

Quando se trata de amor, certos conceitos podem figurar em segundo plano, é melhor ter o objeto de atração perto do que a alcance nenhum. Desde que isso nao lhe agrida, desde que se tenha respeito mútuo.
Ser for assim, devemos respeitar.

Ele seguiu então seu rumo, fechou os olhos e decidiu concentrar seus pensamentos transcendentes em outra direção, já que as idéias inicialmente propostas estavam e continuavam a ser alimentadas por um outro alguém.
A continuidade tinha que ser mantida, e a apoderação era um mero delalhe do que havia sido proposto inicialmente.
A sua ideia inicial se foi, pensou no aluguel das horas que vendia diariamente, na evolução contrária e lhe surgiu um sorriso no rosto.

Tudo era abstrado e nao havia certeza nem coerencia nos fatos, tão pouco nos pensamentos que passava por sua mente enquanto seguia seu caminho.
No entanto, perdurava em seu coração o fato de que a verdade nao pertence a ninguém.

quarta-feira, 16 de março de 2011

CITAÇÃO CONTUNDENTE

Reiniciada a busca por uma nova leitura, comecei a rever autores... procurando, procurando, pensando no que iria ler agora, de que autor era a hora neste momento, se devia ler algo dilacerante ou acalmante, algo curioso, denso ou fútil... tornou-se inevitável tomar Henry Miller como companhia. Henry Miller, e o cru Trópico de Câncer. Sua forma direta e real de pensar. A forma simples e honesta com que vê e descreve o mundo, as pessoas, os acontecimentos. Henry Miller e sua acidez simpática. Sua simpática apatia. Suas descrições contundentes da aspereza humana, da ausência de alma, da permanência da mente, da presença do instinto... Falai, Henry Miller. Bem-vindo novamente:

"Hoje sinto orgulho que dizer que sou inumano, que não pertenço a homens e governos, que nada tenho a ver com a maquinaria rangente da humanidade – eu pertenço à terra! (...)
Lado a lado com a espécie humana corre outra raça de seres, os inumanos, a raça de artistas que, incitados por desconhecidos impulsos, tomam a massa sem vida da humanidade e, pela febre e pelo fermento com que a impregnam, transformam a massa úmida em pão, e pão em vinho, e o vinho em canção. Do composto morto e da escória inerte criam uma canção que contagia. Vejo esta outra raça de indivíduos esquadrinhando o universo, virando tudo de cabeça pra baixo, e os pés sempre se movendo em sangue e lágrima, as mãos sempre vazias, sempre se estendendo na tentativa de agarrar o além, o deus inatingível: matando tudo ao seu alcance a fim de acalmar o monstro que lhe corrói as entranhas. (...) E tudo quanto fique aquém desse aterrorizador espetáculo, tudo quanto seja menos sobressaltante, menos terrificante, menos louco, menos delirante, menos contagiante, não é arte. Esse resto é falsificação. Esse resto é humano. Pertence a vida e à ausência de vida.
(...) Se sou inumano é porque meu mundo transbordou de suas fronteiras humanas, porque ser humano parece uma coisa pobre, triste, miseravel, limitada pelos sentidos, restringidas pelas moralidades e pelos códigos, definida pelos lugares-comuns e ismos.
(...) Tenhamos um mundo de homens e mulheres com dínamos entre as pernas, um mundo de fúria natural, de paixão, ação, drama, sonhos, loucuras, um mundo que produza êxtase e não peidos secos.
(...) Que os mortos comam os mortos. Dancemos nós os vivos, à beira da cratera, uma última e agonizante dança. Mas que seja uma dança!”
  
Henry Miller - Trópico de Câncer
Henry Miller se rasgando por dentro. E eu, o rasgando por fora.

quarta-feira, 2 de março de 2011

TRADUZIR-SE ( Citação)

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?


Ferreira Gullar

- Ferreira Gullar, poeta maranhense...estava presente no Roda Viva da TVE nessa segunda-feira. Mente intrigante, personalidade marcante. Cabelos curiosos e tom de voz enfático. Boa poesia e bons pontos de vista.