Ainda não
era noite.
No entanto,
o céu estava negro.
A
precipitação dos pingos era eminente.
Andava pela
calçada no sentido contrário dos carros.
Olhava os veículos,
e principalmente os ônibus que vinham em minha direção.
Tinha a
esperança de ver o que me transportaria até em casa surgindo à frente
milagrosamente.
Gotas começaram
a cair.
Imediatamente
penso no meu velho guarda-chuva.
Estive com
ele o ano inteiro, e justamente no dia que o retirei da mochila pela manha,
tenho necessidade do meu velho amigo no fim do dia.
Penso no
tempo que o tenho.
Se é que sou
dono de algo.
Penso nos
pequenos furos em sua lona e em tantas tempestades que passamos juntos.
Ao ver que em
fim, minha condução se aproxima, deixo a nostalgia de lado.
Estou fora
do ponto de parada.
Mas a
conjunção do destino faz o sinal de transito fechar na hora.
Faço um
gesto pedindo uma camaradagem e a porta se abre.
Subo no
grande veículo.
Há um lugar
vago a me esperar.
Aquela velha
cadeira de tecido cheio de ácaros.
Mas quem se
importa?
Tenho um
lugar.
Sorte sobre
sorte.
Acomodo-me
no assento.
Saco o fone de
ouvido e o livro da mochila.
A chuva
começa torrencialmente lá fora.
Vidro
fechados.
Ambiente
abafado.
Sono
chegando.
As frases
nas páginas não fazem mais sentido.
Fecho os
olhos.
Som, muitas
vozes.
Pessoas
falando sem parar.
Falando de
outras pessoas sem parar.
Mergulho em
um sono conturbado, abafado e barulhento...
Tento abrir
os olhos.
Não consigo.
Palavras,
risadas, música...uma feira talvez.
Música?
Aumento o
som nos meus fones.
Meus
tímpanos vibram.
Esqueço a
algazarra e me concentro em saber a minha localização atual.
Estou
prestes a descer e o povo seguirá feliz.