sábado, 10 de março de 2012

Abafado & barulhento


Ainda não era noite.
No entanto, o céu estava negro.
A precipitação dos pingos era eminente.
Andava pela calçada no sentido contrário dos carros.
Olhava os veículos, e principalmente os ônibus que vinham em minha direção.
Tinha a esperança de ver o que me transportaria até em casa surgindo à frente milagrosamente.
Gotas começaram a cair.
Imediatamente penso no meu velho guarda-chuva.
Estive com ele o ano inteiro, e justamente no dia que o retirei da mochila pela manha, tenho necessidade do meu velho amigo no fim do dia.
Penso no tempo que o tenho.
Se é que sou dono de algo.
Penso nos pequenos furos em sua lona e em tantas tempestades que passamos juntos.
Ao ver que em fim, minha condução se aproxima, deixo a nostalgia de lado.
Estou fora do ponto de parada.
Mas a conjunção do destino faz o sinal de transito fechar na hora.
Faço um gesto pedindo uma camaradagem e a porta se abre.
Subo no grande veículo.
Há um lugar vago a me esperar.
Aquela velha cadeira de tecido cheio de ácaros.
Mas quem se importa?
Tenho um lugar.
Sorte sobre sorte.
Acomodo-me no assento.
Saco o fone de ouvido e o livro da mochila.
A chuva começa torrencialmente lá fora.
Vidro fechados.
Ambiente abafado.
Sono chegando.
As frases nas páginas não fazem mais sentido.
Fecho os olhos.
Som, muitas vozes.
Pessoas falando sem parar.
Falando de outras pessoas sem parar.
Mergulho em um sono conturbado, abafado e barulhento...
Tento abrir os olhos.
Não consigo.
Palavras, risadas, música...uma feira talvez.
Música?
Aumento o som nos meus fones.
Meus tímpanos vibram.
Esqueço a algazarra e me concentro em saber a minha localização atual.
Estou prestes a descer e o povo seguirá feliz.