De sua consciente ausência
ela emergiu mais uma vez.
Corpo presente mente
longe, olhar vago em uma dimensão distante e intangível;
No entanto, repleto de
valores que considera com importantes e que estão em falta aqui no mundo
físico.
Palavras soltas, contexto
não considerado, respeito perpetuado.
Em seu desgaste mental, não
queria mais ser subserviente a nenhum mortal.
Nada de destinar a
esforços mentais para nutrir a outros que perpetuam o disperdício.
Em sua viagem, ela optou
por se exilar das conhecidas mazelas do mundo.
A literatura deu o
suporte necessário, para a sua forma de recarregar as extenuadas baterias
neurais, enquanto seu corpo respondia apenas autonomamente aos estímulos
externos quando fosse solicitado, se fosse solicitado.
Gestos de um ator; um
personagem que interpreta pedidos com ausência de significado.
Muitos acharam estranho aquele
comportamento.
Polido de mais, diferente
de mais, o que aconteceu com ela?
Momentaneamente Angina
desistiu desta inglória luta, sabendo de antemão que nada é para sempre.
Já diziam os grandes,
"recuo estratégico".
Mas o tic tac continuava
brandamente em seu interior, suas expressões não revelavam a tempestade que se
seguia atrás dos olhos inexpressivos.
Em uma vivencia repleta
de paliativos, alguns sons não são percebidos até que seja tarde de mais.
Estava muito cansada da
falta de reconhecimento de uma forma geral, e principalmente da forma robótica
que estava tomando as obrigações no trabalho.
As ideias tinham que ser
autenticas, mas a aplicação e a manutenção deveriam ser sempre automatizadas e os créditos, nao eram devidamente atribuídos...
Era a batalha paradoxal
do dia a dia, novas ideias, velhas formas de se executar as ações.
E sempre a mesma
desvalorização.
Na maioria das vezes, o
conteúdo dos relatórios, só eram combustível para alimentar outros.
Ladrões em escala
imensurável com ambições do mal ainda assim crescente.
Caules que drenavam tanto
do solo, quanto das folhas, os nutrientes para se manter de pé...
Mas ainda não era
possível cortar as raízes, não definitivamente. Apenas era possível se tornar
furtiva a cada apneia que se submetida voluntariamente.
Dentro do contexto literário,
ela podia viver todas as nuances, torcer pelo melhor fim, ou pela derrota do
vilão, ou até mesmo pela vitória, já que sempre há algo de bom à se extrair de
alguém que defende uma causa.
Ela acredita que ainda há
nobreza, em fim, mas que a corrupção nubla o objetivo inicial e tudo se perde
no caminho na maioria das vezes.
Em sua imaginação, era
possível conhecer a todo o momento vários lugares do mundo, e com isso,
aumentava cada vez mais a sua certeza ao retornar a realidade.
A existência de um modo
geral não era nada mais do que pura ficção.
Então tudo se fundia, éramos
literalmente personagens repletos de segredos, angustias e verdades que só
cabiam a nós vivenciar.
Nossas expressões eram como mímicas...
Ela não via saída, não
tinha tendências suicidas, apenas vontade de desistir; mas isso de certa forma não
seria um advento da morte?
Angina não sabe, assim
como todos nós, o que o futuro reserva, mas o tic tac enlouquecedor
persiste...e há momentos que ele é mais forte que sua vontade ou da nossa...