quarta-feira, 16 de março de 2011

CITAÇÃO CONTUNDENTE

Reiniciada a busca por uma nova leitura, comecei a rever autores... procurando, procurando, pensando no que iria ler agora, de que autor era a hora neste momento, se devia ler algo dilacerante ou acalmante, algo curioso, denso ou fútil... tornou-se inevitável tomar Henry Miller como companhia. Henry Miller, e o cru Trópico de Câncer. Sua forma direta e real de pensar. A forma simples e honesta com que vê e descreve o mundo, as pessoas, os acontecimentos. Henry Miller e sua acidez simpática. Sua simpática apatia. Suas descrições contundentes da aspereza humana, da ausência de alma, da permanência da mente, da presença do instinto... Falai, Henry Miller. Bem-vindo novamente:

"Hoje sinto orgulho que dizer que sou inumano, que não pertenço a homens e governos, que nada tenho a ver com a maquinaria rangente da humanidade – eu pertenço à terra! (...)
Lado a lado com a espécie humana corre outra raça de seres, os inumanos, a raça de artistas que, incitados por desconhecidos impulsos, tomam a massa sem vida da humanidade e, pela febre e pelo fermento com que a impregnam, transformam a massa úmida em pão, e pão em vinho, e o vinho em canção. Do composto morto e da escória inerte criam uma canção que contagia. Vejo esta outra raça de indivíduos esquadrinhando o universo, virando tudo de cabeça pra baixo, e os pés sempre se movendo em sangue e lágrima, as mãos sempre vazias, sempre se estendendo na tentativa de agarrar o além, o deus inatingível: matando tudo ao seu alcance a fim de acalmar o monstro que lhe corrói as entranhas. (...) E tudo quanto fique aquém desse aterrorizador espetáculo, tudo quanto seja menos sobressaltante, menos terrificante, menos louco, menos delirante, menos contagiante, não é arte. Esse resto é falsificação. Esse resto é humano. Pertence a vida e à ausência de vida.
(...) Se sou inumano é porque meu mundo transbordou de suas fronteiras humanas, porque ser humano parece uma coisa pobre, triste, miseravel, limitada pelos sentidos, restringidas pelas moralidades e pelos códigos, definida pelos lugares-comuns e ismos.
(...) Tenhamos um mundo de homens e mulheres com dínamos entre as pernas, um mundo de fúria natural, de paixão, ação, drama, sonhos, loucuras, um mundo que produza êxtase e não peidos secos.
(...) Que os mortos comam os mortos. Dancemos nós os vivos, à beira da cratera, uma última e agonizante dança. Mas que seja uma dança!”
  
Henry Miller - Trópico de Câncer
Henry Miller se rasgando por dentro. E eu, o rasgando por fora.

Um comentário:

  1. No boundaries!! Henry Miller sempre tem uma coisa no estilo "bundas ao léu" pra nos dizer... ;)Vale ser revisitado!
    Saudades!!
    Bjs!!

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