sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Coma Voluntário

Ela estava calma.
Havia algum tempo que não sentia esta sensação morna de não estar se importando muito com os problemas que se acumulavam em sua vida.
Caminhava lentamente pela rua, imaginava seu destino, mas não tinha pressa alguma de chegar.
Estava sempre correndo, precisava de mais tempo para si mesma.
A boemia acompanhada não era mais tão atrativa.
Ultimamente preferia reunir pensamentos à dispersa-los com os outros.

Deparou-se com um bar convidativo e de repente sentiu súbita sede.
Pediu uma dose de rum com coca e gelo.
Recebeu rapidamente.
Preferia vinho, mas estava muito calor.
Sorveu um bom gole da bebida e estudou o ambiente.
Percebeu que as pessoas ao seu redor tinham um ar solitário, ainda mais do que o normal.
Pensou se ela também não deveria parecer assim para os outros que eventualmente a encaravam.
Sentiu se paranóica.

Quis ouvir boa musica, mas o que passava na tela era inaudível e de aspecto tosco.
Era melhor o silencio parcial.
Pegou em sua bolsa o mp3 e selecionou algo agradável aos seus ouvidos.
Colocou os fones e fez um gesto para o garçom.

Enquanto bebericava pensou no direito que todos deveriam ter de não ser incomodados.
Deveríamos ter uma capa de isolamento acústico e físico, e só permitir a penetração do que fosse agradável aos ouvidos ou ao corpo.
Desta vez ao beber seu semblante se alterou para um aspecto mais malicioso, passou a língua nos lábios e concluiu seu pensamento com um sorriso.

Fones de ouvido e camisinhas devem ser colocados nos buracos certos, desta forma não corremos o risco de incomodar ou sermos incomodados por ninguém.
Fez outro gesto para o garçom enquanto já lhe aflorava outro pensamento arrebatador na mente já não tão morna assim.


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