segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Estamos vivos?

Abro os olhos.
É o fim do transe na forma de sono.
Não sei se dormi, sei que não sonhei.
Percebi apenas um lapso negro e ausência de imagens.
Faço um movimento e emito um grunhido como que reclamando de algo.
Levanto da cama e calço minhas pantufas sujas de sangue.
Caminho até o banheiro e fico lá, estático por alguns minutos.
Tenho que fazer algo, mas não sei bem o que.
Em seguida vou para a porta da rua.
Sigo para a condução com meus passos arrastados, concentrado apenas em caminhar.
Lá encontro uma fila de outros como eu, incorretamente alinhados a espera do sinal para embarcar.
Seremos dirigidos por um outro ser com o papel de fazer o translado de nossos corpos degenerados de um extremo a outro, por puro ato reflexo.
Acomodo-me e entro em catatonia no trajeto.
Levo um encarte e olho as imagens e as letras.
Resíduo de outra vida talvez.
Não consigo formar frases, não consigo entender o sentido contextual do que vejo.
Ausência de consciência.
Tudo apenas passa, sem meu desejo de interferência.
Não foi sempre assim?
Mergulho no breu enquanto sacolejo em acima de amortecedores fodidos e freadas bruscas.
Caos nas ruas.
Não foi sempre assim?
Chego ao escritório, as baratas se afastam ao me verem.
Fico posicionado em frente ao monitor encarando a tela preta.
Pressiono a mesma tecla repetidamente sem emoção.
Apenas aguardando o fim das horas de vida vendida a interesses de terceiros.
Não foi sempre assim?
Eterno transe no cumprimento das obrigações.
Sem festejo, sem reconhecimento, apenas deveres.
Danem-se suas aptidões, sonhos e relações.
Meu estomago diz que é hora do almoço.
Desço e me alimento, gesticulo aos outros que encontro na rua e volto à mesma sala, a mesma posição e a mesma tela preta.
Estado vegetativo.
Coisas sem sentido.
Dia cansativo.
Não foi sempre assim?
A escuridão na janela diz que é hora de voltar.
Últimos movimentos frente ao computador; e o dia estará por acabar.
Retorno fazendo inversamente a rotina diurna sob o luar.
Em casa me alimento de restos guardados.
Coloco uma música, mas por ela não sou alcançado.
Tento ler, mas o sentido do que vejo se esvai.
Nada me prende, mas tudo me atrai.
Coloco minhas pantufas sujas de sangue ao lado da cama
Deito e fecho os olhos, aguardando o amanhecer.
Talvez me pergunte como o próximo dia vai ser.
Mas nem isso eu posso responder.
Não foi sempre assim?

Nenhum comentário:

Postar um comentário