sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

SORRIA - VOCÊ PODERIA ESTAR SENDO FILMADO

      Estava no trabalho quando me ocorreu a velha idéia novamente. Na verdade, vinha de algo tolo que estava executando, e do pensamento de sair do corpo e olhar-me de longe executando o tal algo. Ver-se fazendo aquilo. Olhar-se de fora, sendo você mesmo uma terceira pessoa a observar a si próprio, a observar a sua interação com as coisas ao redor e com os demais. A velha vontade de saber que percepção tem uma outra pessoa de você. Como interajo? Como sou executando uma ou outra tarefa? Como sou realizando algo tolo? E algo bom?
      Estamos sempre tão embebidos, embreagados de nós próprios e nossos anseios e inquietudes que sequer percebemos o que passamos, como nos integramos e se de fato o fazemos como deveríamos.  A idéia de ver-se fora do corpo me fez lembrar de quando criança perguntar em casa o que era consciência. Como o conceito (assim como para toda criança) me soava demasiadamente complexo, simplifiquei imaginando que minha consciência era eu, ou uma versão idêntica a mim, vestindo sempre shortinho e blusinha de criança e usando... pulseiras de plástico rosas. Minha consciência tinha pulseiras que me davam aquela inocente inveja infantil. E ao mesmo tempo ela me lembrava sempre que a inveja era algo ruim de se sentir. Tentava me convencer daquilo. Blah! Para ela era fácil falar, afinal ela tinha as pulseiras! Mas de fato, a minha consciência (na minha concepção infantil) era mais forte e mais decidida do que eu. Sempre atenta, tinha para todas as situações algo a dizer de forma enérgica, agitando as pulseiras que eu queria usar, e me repreendendo quando necessário. Era como estar fora do corpo e me ver como quem assiste. Embora, nessa minha concepçãoo infantil, minha consciência fosse tão diferente de mim. Talvez por querer eu, como toda criança, fazer coisas que ela sempre (sacudindo as pulseiras) repreendia. Talvez... O fato é que conforme os anos foram passando, começamos a concordar mais, eu e minha consciência. Até que as pulseiras se foram, e não sei agora que tipo de jóias ou bijuterias ela usa. Mas ficou a velha vontade de me ver de fora de novo. Pôr uma câmera escondida e gravar a minha participação em tal evento, minha atitude em uma ou outra ocasião, meu sono, meu banho... e avaliar descobrindo se falo dormindo, se participo do mundo como deveria, se cumpro tarefas como penso que cumpro, se executo as atividades como imagino que estou executando, se gesticulo mais ou menos quando falo, se falo alto, se rio demais... Qual imagem passamos? Que cara damos aos eventos? Quem somos nós quando nos vemos de fora? Somos vistos de fora da mesma forma que nos guardamos e nos sentimos por dentro?
      Fico me perguntando acima de tudo se uma forma tivesse minha consciência hoje - como na minha imagem personificada da infância - que tipo de visual teria. Penso, penso... Imagino, imagino... e de fato, a única conclusão que chego é que na certa não usaria mais pulseiras de plástico rosas.

2 comentários:

  1. "Qual imagem passamos? Que cara damos aos eventos? Quem somos nós quando nos vemos de fora? Somos vistos de fora da mesma forma que nos guardamos e nos sentimos por dentro?"

    Esses questionamentos realmente são bem fortes... Vira e mexe também me deparo com eles e não acho respostas...

    Marii ameii o texto!!!
    beijokitas!

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  2. Penso que jamais saberá. Mas temos uma pista quando olhamos em volta e vemos o mundo que construímos até agora. Somos esse mundo. Beijos da mamãe.

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