sábado, 30 de abril de 2011

Ocupação do ócio.

Caminhou até a praça.
Avistou na outra extremidade um banco em uma sombra.
Foi com seu livro até lá, e entretido na leitura relaxou.
Muitas pessoas transitavam.
Precisou se esforçar na concentração.
Barulhos e falatórios.

De súbito parou e olhou os transeuntes.
Notou que respeitando os intervalos, eram sempre as mesmas pessoas.
A variação estava por conta das mãos, vazias ou cheias.
A expressão era sempre a mesma no rosto de todos, preocupação.

Os ônibus paravam a sua frente.
Dezenas de pessoas em pé e outras tantas sentadas.
Os que estavam acomodados simplesmente olhavam a paisagem ou dormiam.
Perdiam assim, uma oportunidade enorme para dedicar-se a leitura.
A leitura em transito é uma questão de costume.

Sempre estava acompanhando de seu melhor amigo, o livro.
As intermináveis filas dos bancos eram a desculpa ideal para a fuga literária.
Os imensos engarrafamentos também exerciam seu papel fundamental.
A demora nos consultórios médicos era um prato cheio para os olhos, ávidos a juntar palavras, frases e dar sentido ao contexto das letrinhas agrupadas.

Tentou não pensar nas questões de organização pública, que deveriam fazer o transito fluir através de transportes de massa de qualidade.
Tentou não pensar no desrespeito com as pessoas em relação a filas; pois havia uma lei quanto a isso, mas ninguém cumpria e ninguém fiscalizava.

Ocioso e privado da leitura seria insuportável e fútil ficar apenas estático aguardando a vez ou a chegada ao destino.

Respirou fundo, balançou a cabeça negativamente e voltou à leitura.
Não sabem o que estão perdendo.

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